segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Se atualizar não é preciso, é necessário.

Muitos dizem que o BIM é um divisor de águas, um salto tecnológico. Eles não estão errados, porém, o BIM também é um novo paradigma no modo projectual e construtivo de edificações assim como o CAD fôra um dia. Sair do papel e ir para frente do computador era e é até hoje para alguns arquitetos um verdadeiro tormento, pois segundo eles mesmos esses programas limitam a criatividade e a liberdade na hora de projetar. Será que eles estão errados?

Nas últimas décadas, os computadores começaram a ser utilizados em quase todas as fases do processo projectual em arquitetura, tornando-nos extremamente dependentes dos sistemas CAD. Contudo, a influência do uso desses programas nas fases iniciais do projeto, em especial na arquitetura, ainda é muito pequena. A grande maioria dos arquitetos continua utilizando métodos tradicionais para a geração da forma, partindo em geral de fluxogramas e utilizando o computador simplesmente como suporte, sem aproveitar seu grande potencial para a realização de tarefas repetitivas na geração de alternativas.

Os novos sistemas de CAD paramétricos prometem revolucionar essa fase do trabalho, mas obrigam o arquiteto a se adaptar aos métodos e metáforas escolhidos por seus programadores, limitando de certa forma sua liberdade de criação.

Essa resistência em adotar o “novo” se deve muito às nossas escolas e aos nossos cotidianos, na época de nossos pais, digo nossos pais, pois tenho somente 28 anos. Nesta época tudo era muito presencial e físico, não existiam computadores no cotidiano deles e muito menos MSN, Orkut ou algo do gênero. Videogame então nem pensar. O máximo de botões que conheciam era o de ligar e desligar a televisão e o radio, tudo tinha de ser presencial até mesmo na faculdade onde para se entrar no curso de Arquitetura e Urbanismo era necessário passar pelo teste de aptidão, pois tudo era feito na prancheta, com régua T ou paralela, esquadros e transferidores e tudo desenhado a nanquim . Ter um bom traço e destreza nas mãos era pré-requisito básico, pois se borrasse ou errasse era necessário uma gilete para apagar o erro. Quanto às maquetes, essas sim eram um “show”. Feitas com papel Paraná e madeira balsa, elas não se assemelhavam em nada com as maquetes em 3D com render foto realístico que levam algumas horas para serem feitas. O render era feito com pinceis atômicos com diversos tipos de ponta e até aerógrafos eram utilizados. Para ser um arquiteto era pré-requisito ser um artista. Naquela época também existiam aparatos que hoje muitos estudantes de arquitetura sequer conhecem como normógrafos, transfer, réguas de cálculo, réguas de texto, etc.

Hoje em dia tudo é muito mais fácil. A minha geração que chamo de “Geração 486”, foi criada a base de Windows 3.1 e 95, das quais as brincadeiras favoritas eram jogar no Atari ou Máster System, entre outros. Nós já fazíamos os trabalhos escolares através de “Ctrl+C e Ctrl+V” no Word, fazíamos as apresentações de trabalhos no PowerPoint com a utilização de recursos multimídia, ou seja, nada de cartolina, desenho à mão ou cola e purpurina. A minha geração viu a internet nascer. Ela já se comunicava sem a necessidade da presença física através de teletexto ou ICQ. Nós da “Geração 486” já nascemos envoltos na tecnologia e informação, tornando o processo de adaptação muito mais fácil.

A tecnologia evolui a cada instante e hoje está presente em nossos cotidianos, inclusive nas escolas e universidades, a ponto dos alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo hoje em dia terem aula de CAD - Computer Aided Design ou desenho auxiliado por computador, pelo menos é o que se pretende ser. Porém, é ai que nasce o problema! Muito desses professores que ensinam hoje nas universidades e faculdades, sejam elas públicas ou privadas, também tem certa relutância em se atualizar já que é obrigatória a confecção e idealização dos projetos da mesma forma que se fazia antigamente, com as mesmas técnicas e processos projectuais, sendo que muitas delas não condizem com a realidade do mercado.

Além disso, muitos dos que ensinam outras disciplinas tão importantes quanto CAD nem sequer sabem desenhar nessa ferramenta, muito menos concebem seus projetos nela e ainda degradam a importância dessa matéria para o futuro desses jovens arquitetos. Parece brincadeira, mais não é, pois em decorrência da necessidade do mercado de redução de custos e rapidez na busca de informações, os programas paramétricos são essenciais porque são capazes de reduzir o tempo de concepção e planejamento dos projetos, a quantidade de erros, além de simularem em tempo real e georeferenciado os ventos, cargas térmicas, análise de estruturas e compatibilização de projetos através do sistema BIM, olha ele ai! Building Information Model ou Modelo de Informação da Edificação. Porém, os profissionais da área de educação não atentaram para isso e muitos nem sequer conhecem esses recursos. Além disso, as aulas de CAD deveriam ser literalmente aulas de projeto auxiliado por computador utilizando estas ferramentas para estudar e conceber projetos.

O resultado é a falta de profissionais qualificados no mercado para trabalhar com estes tipos de ferramentas, a falta de escritórios preparados para implantar essas ferramentas e futuramente a perda de mercado para aqueles que não se atualizarem, pois cada vez mais os clientes exigem agilidade na elaboração dos projetos. E agora com a questão da sustentabilidade, especificidade e compatibilização a coisa vai mais além já que estes programas trazem através do sistema BIM e paramétrico um mundo de informações sobre cada elemento que será usado na execução da obra, desde a especificação de uma simples torneira até a quantidade, preço e o tipo de ferro que será utilizado em um pilar com o mapa das ferragens e o cálculo de esforço das vigas sendo visualizada em um mapa térmico. Para se ter uma idéia já está sendo estudada a possibilidade de prever a vida útil de um prédio incluindo a dilatação e a contração das fachadas no decorrer dos anos.

Ao utilizar esses programas podemos resolver diversos problemas através de simulações de carga térmica, ventilação, carga da estrutura, entre outros problemas corriqueiros que só veremos na execução da obra como é de praxe em diversos estados do Brasil. Planejar não é perda de tempo, muito pelo contrário, e isso só é percebido quando começa a doer no bolso.

Depois desse longo parênteses a respeito da dificuldade de adaptação dos profissionais às novas tecnologias que estão surgindo voltemos ao BIM e suas inumeráveis vantagens.

Desmistificando o BIM.

1º Como dito anteriormente, o BIM é um sistema e não um programa.

2º Para usufruir do sistema BIM basta utilizar um programa compatível com ele, geralmente paramétrico.

3º O BIM é parecido com um bloco atributado do AUTOCAD. Nele são colocadas informações de diversas naturezas como peso, preço, dimensões, fornecedores, tipo, descrição, e o que mais for necessário incluindo, é claro, o desenho ou protótipo já que por ser feito em um programa paramétrico ele é um modelo em escala real do objeto. Além disso, essas informações ficam armazenadas no arquivo como um banco de dados e podem ser acessadas e alteradas a qualquer momento. Até ai tudo bem, pois não é novidade. Porém, o sistema BIM universaliza estas informações, ou seja, estas informações podem ser abertas e alteradas em qualquer programa que utilize este sistema sem nenhum problema. Tome como exemplo a compatibilização e orçamento de um projeto. Eles terão como base o projeto arquitetônico que será modelado em um programa paramétrico seja ele REVIT, ARQCHICAD ou BENTLEI. Os projetistas complementares farão seus projetos nos programas específicos, desde que utilizem o sistema BIM. Depois de feito os projetos complementares as informações geradas por eles serão inseridas em um dos softwares descritos acima para a compatibilização com a arquitetura e estrutura. É ai que surge a mágica: todos os projetos são mostrados ao mesmo tempo em 3D e 2D pelo software paramétrico que lhe informou quais são os problemas e as incompatibilidades que ocorreram no projeto. Averiguadas e solucionadas as incompatibilidades, o modelo BIM da obra está feito e a equipe de orçamento e execução estará pronta para orçar e construir o edifício de forma rápida e fácil, pois com estas informações será possível pegar, por exemplo, a metragem linear e quadrada de todas as paredes do pavimento tipo até a cobertura com apenas um clique, além de saber e checar quantos metros cúbicos de concreto será necessário para a execução da laje e o custo dela com todas as DD e DI’s. Será possível também simular a execução e estimar quanto tempo será necessário para sua construção ou ainda planejar e simular como vai se comportar o seu canteiro de obra a ponto de saber quanto tempo uma grua vai ficar em um determinado lugar ou onde o barracão se deslocará ou será desmontado no decorrer da obra.

4º Há vantagens para os arquitetos em utilizar esse sistema? Sim, pois será necessária a utilização de um programa paramétrico como os já citados acima e isso vai fazer com que o seu tempo de concepção dos projetos caia drasticamente desde o estudo até o detalhamento. Nos programas paramétricos é possível a confecção de projetos em grupo, não sendo necessário disponibilizar mais do que uma ou duas pessoas para projetar um prédio com apenas uma torre de pavimento tipo semelhante. Lógico que isso pode variar de acordo com a complexibilidade do projeto, mas os cortes, fachadas e detalhamentos são praticamente automáticos quando o projeto é bem modelado. Quanto ao memorial descritivo e especificações, bom elas já estarão prontas assim como o mapa de esquadrias, pois os modelos de blocos ou famílias já conterão todas as informações necessárias. Além disso, as áreas dos pavimentos poderão ser inseridas nas pranchas automaticamente como outras informações se necessário. E mais: é possível também fazer a simulação do insolejamento e da ventilação desde o estudo até o executivo sem problema algum. É possível também ter as cargas térmicas exatas para serem passadas para os projetistas de ar condicionado, esquadria e sustentabilidade e tudo isso em um só programa. E isso porque não citei nem 5% do que estes softwares podem fazer.

5º Quanto ao custo e ao tempo de implementação? Bom, isso é um problema, pois estes softwares não são muito baratos, variam de 2 a 20 mil reais. Também são necessárias máquinas de peso com processadores de Core 2 Duo para cima com um clock alto. Aconselho de 3 para cima com no mínimo 6 Mb de Cache L3 de 1000 Mhz para cima. Quanto à memória aconselho de 8Gb DDR3 para cima e placa de vídeo de preferência de boa marca, ou seja, NVIDIA ou ASUS de no mínimo 500Mb. Compre máquinas fechadas, ou seja, de marcas de peso como DELL, APPLE, ASUS e ALIENWARE, de preferência serie “Gamers” pois tem as configurações mais robustas. Não poupe na hora de estender a garantia pois, com um investimento destes não se brinca. Quanto à implementação, posso dizer que no começo o ritmo de trabalho será mais lento, pois, os usuários do sistema estarão se adaptando as novas rotinas de trabalho. Será necessária a criação de uma biblioteca de blocos ou famílias além da personalização dos carimbos e símbolos presentes nas plantas. Porém, posteriormente com o uso continuo e a prática, a concepção de seus projetos serão infinitamente mais rápidos do que quando você fazia em CAD e a sua produção com certeza será mais eficiente e menos susceptível a erros, portanto mais produtiva e rentável. Por fim, concluo dizendo que se atualizar não é preciso, é mais do que necessário.

Frank Caramelo
Arquiteto, Designer e Gerente de TI da CARAMELO ARQUITETOS ASSOCIADOS LTDA.

Mais informações nos sites:
caramelo.com.br
frankcaramelo.com.br
twitter.com/frankcaramelo

Qualquer dúvida, crítica ou sugestão envie um e-mail para:
contato@frankcaramelo.com.br

Livros sugeridos para se entender melhor os programas paramétricos o BIM e o Desenho Auxiliado por Computador:
A lógica da Arquitetura, Mitchell, Willian J./UNICAMP
Autodesk Revit Building, Garcia, José/FCA
Explicações, Tutoriais e exemplos do BIM/ AUTODESK, http://vai.la/GJm
BIM para Projetos Sustentáveis/ AUTODESK, http://vai.la/GJk

Sites sobre o assunto:

Blocos e famílias em sistema BIM - http://seek.autodesk.com/
Software Archicad - http://www.graphisoft.com/
Software Revit - http://vai.la/GJE
Software Bentley MicroStation - http://www.bentley.com/pt-BR

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